30/06/2009

Procurando Nemo

Um dos bairros onde eu atuava assim que comecei é denominado Caminho Novo e lá existe "casas de Cohab" como costumam chamar. Acontece que são quatro ruas paralelas: A, B, C, D e E, que por sua vez, são divididas por quadras de 01 a 30 e nestas, existem as casas nomeadas por lotes que vão de 01 a 60.


Na minha primeira ida, estava à procura de um senhor e entrei na primeira rua, que supôs ser a rua A. Peguntei nas casas da primeira quadra e nada e assim foi quase até o final da rua quando na penúltima, estavam duas senhoras sentadas na frente da casa e eu perguntei se conheciam o fulano.


Uma me respondeu:


- "Moço, aqui nesta rua não mora homem, só mora mulher e ainda todas viúvas! Tá em falta! Por isso que as ruas tem nome de letra, as quadras tem números e as casas tem lotes, porque é que nem CEMITÉRIO!"


Ah, entendi!
E não achei quem estava procurando.



Já assistiram o filme "Procurando Nemo"? É mais ou menos. Sem contar que neste local, por não ser tão seguro e o índice de criminalidade ser um pouco alto, prevalece a lei do silêncio, ou seja, ninguém viu, ninguém ouviu, ninguém conhece ninguém e ninguém sabe onde foi.



Mas como todo bairro, em todas as cidades existe um mercadinho (aqueles que anotam as compras nas cadernetas), este também tinha, claro.



Ficava bem no meio do loteamento, portanto, supostamente ele conhecia todos ali. Me apresentei e para fazer uma média, comprei uma lata de refrigerante - assim não podia pensar que me daria informação de graça - e ele me disse que quando eu precisar encontrar alguém eu poderia pedir a ele, que DEPENDENDO DA PESSOA ele me indicaria onde mora ou chamaria para que eu atendesse ali mesmo no mercado. Porque, segundo ele, às vezes é meio perigoso.


As pessoas não são tão ruins assim e pelo lugar não podemos julgar. A mesma coisa, nunca podemos julgar o livro pela capa, mas sim pelo conteúdo. E eu fui a prova disso...


Um dia fui no local perto do meio-dia (é um horário excelente porque 80% das pessoas estão em casa) e de repente o pneu da frente do meu carro caiu num buraco. E não era um buraquinho qualquer. Um grande buraco, sendo que o carro ficou empinado. Tanto é que eu não conseguia acelerar porque o pneu deslizava.


Aí pensei: e agora? O que eu faço? Tranco tudo e saio correndo antes que me assaltem, ou chamo ajuda de alguém?


Antes que eu soubesse o que ia fazer o dono do mercadinho veio correndo já com umas quinze crianças e adolescentes junto dele. Um detalhe: onde eu caí com o carro não havia ninguém na rua o ocorrido foi há umas duas quadras de onde ele estava.


Num instante ajudaram a levantar o carro. Resumindo: refrigerante pra todo mundo no mercadinho!


Eis o dito cujo:



26/06/2009

Crianças não mentem

Percebo que em muitas situações, o Oficial de Justiça não é visto com bons olhos. Algumas pessoas ficam com medo, arredias, outras se omitem muitas vezes não tendo nada a esconder e só o fato de um Oficial de Justiça bater na porta de sua casa, já imaginam o pior.


E nessas ocasiões, as crianças são nossas grandes aliadas e cada vez acredito mais no velho ditado onde criança não mente.


Tive um caso de uma citação numa cobrança onde a destinatária já sabia da existência da ação e estava se escondendo. Eu estive na casa dela por duas vezes e, apesar de perceber que havia um menino na residência que aparecia na janela, ninguém me atendia.


Na última tentativa, estava o tal menino na frente da casa, de aproximadamente oito, nove anos de idade, eu perguntei:


- “Sabe se a fulana de tal está em casa?”


E ele – vendo que não tinha saída - respondeu:


- “Moço é o seguinte: minha irmã estava nas outras vezes, mas mandava dizer que não estava. E ela trabalha na “Empresa Tal” e ela vai estar lá na parte da tarde, mas também pediu pra não te contar porque ela não quer que vc ache onde ela está. E não diz que eu te disse, tá? É que minha avó disse que a gente nunca pode mentir".

Bingo! Ganhou uma bala, claro!

Quando eu fui procurá-la (e encontrei!) ela me perguntou:

- Como me achou aqui?

E eu, discretamente, disse:

- Um senhor me informou na sua casa.

Ponto para mim!


Contos em fotos:



Estava indo para Palhoça e de repente, na marginal da BR visualizei um motoqueiro carregando algo estranho. Ao me aproximar, percebi que ele carregava um colchão na moto, na maior tranquilidade. Se a moda do "disque-colchão" pega, o trânsito ficará pior do que já está.

23/06/2009

Primeiro Júri

Para a minha surpresa, fui convidado já nas primeiras semanas para participar de uma Sessão do Júri.

Começou às 9h da manhã e sempre dois Oficiais de Justiça participam. Chegam antes e recebem as pessoas - já que o Júri é aberto ao público - identificando os Jurados que anteriormente foram intimados e as testemunhas de defesa e acusação. Ei, a Sra. Elaine estava lá!

Depois acontece a leitura do pregão – que nada mais é do que a abertura do Júri, onde se indicam: o número do processo, as partes, as testemunhas de defesa e acusação - feita por um Oficial. Como foi minha primeira vez, outro Oficial que fez o pregão.

Geralmente, como o Júri começa de manhã, com o depoimento do réu e depois pela fala do advogado de acusação seguido do advogado de defesa (uma hora e meia cada um).

Temos um intervalo de almoço de aproximadamente uma hora. Todos juntos: Juiz, assessores, advogados de defesa e acusação, os dois Oficiais e os jurados. Estes almoçam junto com os Oficiais e não podem conversar sobre o processo que está sendo julgado.

Depois segue com a réplica do advogado de acusação e a tréplica do advogado de defesa para então, depois, sair a sentença informada pelo juiz conforme decisão dos jurados.

Um pouco cansativo, mas muito interessante e sempre um bom aprendizado para mim.

Só por curiosidade: no caso do Júri que participei era o de um assassinato numa festa onde a vítima não tinha relação com a tal festa. Foi pedir que abaixassem o som, reclamar do barulho e por fim, levou alguns tiros.

Portanto: sempre que ouvirem som alto na vizinhança: TAMPÃO NOS OUVIDOS E TODOS PRA CAMA!


Contos em fotos:

Todos os dias eu sigo pela BR 101 para chegar em Palhoça e nessas idas e vindas neste caminho ou até mesmo dentro da cidade, presenciei algumas situações um pouco diferentes.

A mais bacana de todas foi numa rua no centro da cidade - e não tão longe do Fórum - onde existe um poste no meio da rua. Isto mesmo: um poste no meio da rua.

Por alguns instantes pensei que eu estava delirando, mesmo porque fazia muito calor naquele mês de janeiro. Então, parei o carro e fotografei com o telefone celular - e juro - não é montagem!


Conversei com uma senhora chamada Carmem, moradora daquela rua, sobre o tal poste. Ela me informou que ninguém da rua entendeu o porquê dele ali.

Antes a rua era estreita e de chão batido e passava ao lado. Depois, a rua foi alargada e colocaram lajotas por toda sua extensão.

Muito bem! Foi alargada e arrumada. Mas o poste continuou no mesmo lugar.

Bom, eu consegui passar - mesmo porque meu carro é de pequeno porte - mas um ônibus ou caminhão, duvido que passe!

19/06/2009

Primeiro mês

Assumi como Oficial de Justiça na cidade de Palhoça no dia 15 de dezembro de 2008. Era de tarde, eu já sabia da aprovação no concurso e ligava constantemente para o Fórum querendo saber notícias da nomeação. Naquele dia resolvi não ligar, não queria ser evazivo e inconveniente, já que minhas ligações eram constantes.

Ficava sem sair de casa, principalmente de perto do telefone, esperando uma ligação dizendo que estava tudo certo para que eu pudesse assumir logo na minha nova função.

Mas naquela tarde fui com um amigo, André, para a Lagoinha da Brava, no norte da ilha. Chegando lá, ao parar o carro, o telefone tocou. Gelei. Era da secretaria do Fórum, solicitando que eu fosse com urgência até lá para ser empossado no cargo tão esperado e que eu deveria estar lá em uma hora, no máximo. Correria total, trânsito parado e caótico, mas consegui chegar em tempo.

No meu primeiro dia em Palhoça conheci o pessoal que, a partir daquele momento, fariam parte da minha vida cotidiana.

Nos dias seguintes, fiquei na “Central de Mandados”, lugar este que é o “QG” dos Oficiais de Justiça do Fórum. Aliás, tem uma placa na recepção do prédio onde indica os setores e salas e uma das indicações diz "Oficialato de Justiça". Esta expressão eu não conhecia: O-F-I-C-I-A-L-A-T-O. Chique, não?

Outra descoberta foi porque temos duas mulheres que trabalham neste cargo lá: Viviane e Poliane. Descobri, portanto, que elas são Oficialas. Assim mesmo. Não são Oficiais de Justiça, mas sim, Oficialas de Justiça. Assim como "escrivão". O feminino é escrivânia, apesar de que o linguajar popular já adotou o escrivã.

Vivendo e aprendendo, sempre.

Não demorei muito para entender o fluxo usado para o nosso trabalho. A cidade de Palhoça é divida por Zonas e cada uma dela é composta por um certo número de bairros. Minha Zona era a 02, que compreende os bairros Passa Vinte - juro que tentei descobrir o porquê do nome, mas não consegui. Dizem que é um rio que tinha por lá - Caminho Novo e São Sebastião.

O mandado (que é o documento onde tem a "ordem" do juiz) sai do Cartório (1ª, 2ª e 3ª Vara Cível, 1ª e 2ª Vara Criminal) para a Central de Mandados - nosso QG - e é distribuído pela Responsável dos Oficiais que coloca em suas respectivas prateleiras.

Nos casos de Juri, as pessoas a serem intimadas como Jurados, compreendem todos os bairros, ou seja, não necessariamente estão na Zona de minha competência. Meu primeiro mandado, portanto, foi intimação de uma senhora chamada Elaine, que foi selecionada como jurada, numa Sessão de Júri que aconteceria na cidade.

O problema dos mandados de intimação do Juri, é que nem sempre tem o endereço completo. Neste meu primeiro caso, por exemplo, tinha somente o nome e profissão.

A única informação que eu tinha é que ela morava perto da Lotérica. Lotérica? E agora? Havia três na região central.

Mas, cidade pequena é assim... Inclusive muitas tem seus personagens históricos e um deles que eu já tinha conhecimento é o “Betinho da Farmácia” que era dono, obviamente, dono da “Farmácia do Betinho”. Foi ele quem me informou onde morava a Sra. Elaine: “na rua do lado da lotérica, número “tal”. E lá fui eu.

Fui prontamente atendido e expliquei que eu era o novo Oficial de Justiça, inclusive frisando - todo orgulhoso - que ela foi a primeira pessoa da minha profissão.

16/06/2009

O porquê deste blog

Escrever o meu cotidiano representa para mim momentos de preciosas descobertas nas coisas simples da vida.

Situações diárias que, às vezes, passam despercebidas mas com bom humor e discontração, deixam de ser situações difícieis e se tornam situações divertidas onde que, por incrível que pareça, aprendi (e aprendo) muito.