25/03/2010

Uma nova chance

Por conta da grande quantidade de mandados nos seis bairros que estou atuando, cumpri primeiro os mais urgentes - audiências - e agora, estou fazendo um dia, dois bairros.
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Ontem pela manhã fiz a área industrial, que compreende o bairro Jardim Eldorado, cumprimento de penhoras (que quase sempre são negativas porque não se acham as pessoas), algumas audiências e mandados relacionados à pensão alimentíca, entre tantos outros. Correria total!
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Tracei a meta de fazer à tarde, a comunidade de Frei Damião, uma vez que meu "amigo-ajudante" já teria ido para a aula de manhã, não atrapalhando seus estudos. Quando fui buscá-lo, conversei com sua mãe, que reclamou da rebeldia de Edmar, do mau comportamento em casa e por estar sempre mentindo. Faz algo e diz que não fez. Ela e eu sempre estamos em contato, pois, segundo ela, ele me ouve e se sente envergonhado quando ela me conta alguma coisa a seu respeito.
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Nas nossas idas e vindas sempre converso no porquê dele estudar, de ajudar em casa nas tarefas diárias, ouvir os pais, sobre as drogas, enfim, no quão é importante ele ser alguém na vida, ser educado, saber ouvir, se desculpar, pedir permissão para certas coisas, assumir os erros, enfim...
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Aconteceu um episódio no carro que fez com que eu chamasse sua atenção. Coisa pequena, mas não importa, aconteceu. Eu tinha uma caixinha de balas no carro que estava fechada. Saí do carro para cumprir um mandado e quando voltei, percebi que ele tinha aberto a caixinha, pegado umas balas e rapidamente a colocou no lugar, achando que eu não tivesse visto.
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- "Edmar, não pode pegar nada dos outros sem pedir, esta caixinha de balas não é minha, agora vou ter que comprar outra" - disse pra ele.
E ele respondeu como se nada tivesse acontecido:
- "Mas estava aberta".
- "Não, não minta. Não estava aberta e mesmo que estivesse, não são minhas."
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E ele viu que eu não gostei nada da atitude dele e expliquei que mesmo sendo uma bala, não se pode pegar nada de ninguém e se pega, deve falar a verdade, sempre. Expliquei que existe uma coisa chamada "confiança", é quando uma pessoa não acredita mais na outra. Disse claramente que se eu perder a confiança nele, certamente terão outras crianças querendo estar no lugar dele. Ficou apavorado, se desculpou e eu disse que ficaria muito triste se isso acontecesse de novo e o daria mais uma nova chance.
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Sempre que terminamos de entregar os mandados, eu dou o valor prometido pra ele - R$ 0,50 por cada cumprido onde achamos a pessoa - e naquele dia ele tinha conseguido R$ 3,00. Na hora de pagar eu disse:
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-"Vou te dar somente R$ 2,50, porque o restante - R$ 0,50 - vou usar para comprar uma caixinha de balas que não era minha. E vou te dar uma nova chance de ser o menino bom que eu conheci, porque eu não quero trocar de ajudante."
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Ele disse que entendeu e que não vai mais mentir, só tinha ficado com medo que eu brigasse por pegar as balas. Expliquei que, se pedir, não se briga e se não pedir, se perde a tal confiança e é isso que eu não quero.
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Pode ser que tenha aprendido duas coisas: não mentir e valorizar o dinheiro.
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E por falar em "nova chance", com relação à Páscoa:
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Páscoa é renascimento, é recomeço, é uma nova chance para melhorarmos o que não gostamos em nós, é ajudar mais gente a ser gente.
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E eu quero ajudar as crianças do Frei Damião a ser criança e quero dar início à campanha da Páscoa que já está próxima.
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Como são muitas crianças, vou comprar aqueles saquinhos de pipoca de papel, uns pacotões de balas e pirulito nessas lojas de R$ 1,99 e montar vários e distribuir para a criançada. Pretendo entregar na quinta-feira, dia 01 de abril - mesmo sendo dia da mentira! Assim como as cestas básicas e chocolates no natal e material escolar no mês passado, quem quiser colaborar, pode mandar um e-mail (marcusdelorenzi@gmail.com) e quem não puder colaborar e quiser entregar comigo, está mais do que convidado!
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Que venha a Páscoa!

23/03/2010

Quem não tem cão, caça com cabra

Apesar de eu estar com uma quantidade excessiva de trabalho por estar atuando em duas regiões grandes, não deixo de flagrar algumas situações divertidas.
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O dia hoje até que foi tranquilo e apesar de fazer somente um bairro - Caminho Novo - mesmo assim consegui encontrar alguns detalhes interessantes e "diferentes".
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Ninguém imaginaria que eu encontraria o carro da avó da Hello Kitty abandonado:
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Ou então, as famosas placas...
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Uma que orienta a NOA jogar lixo.
Um errinho apenas, o que vale é a intenção:
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E por falar em intenção: não abandone, ASSUMI, hein!
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Mesmo porque:
"QUEM NÃO TEM CÃO, CAÇA COM CABRA!"
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17/03/2010

Retornando e continuando

Retornei ao Frei Damião somente ontem pois estava com um volume de trabalho muito grande na região onde estou substitindo outro Oficial que está em férias.
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O mês de março seria o último mês que eu ficaria na região que compreende a comunidade de Frei Damião. Palhoça é composta de oito regiões e eu, desde que assumi no Fórum, fiz somente cinco contando com a atual. Porém, tive uma surpresa, pois a coordenadora da Central de Mandados me perguntou se eu tinha interesse em continuar no Frei Damião. Topei na hora! Portanto, por mais quatro meses - abril, maio, junho e julho - terão que me aguentar por lá!
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O retorno foi bacana, não só pela felicidade de muitos em ter saído a reportagem no Jornal Hora de Santa Catarina, mas também pelo fato de eu contar que ficaria por mais quatro meses atuando na região. É incrível como as pessoas possuem a necessidade de conversar, de contar seus problemas e principalmente serem ouvidas.
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Fui à tarde porque prometi ao Edmar - meu "ajudante" - que não iria no mesmo horário de aula dele, já que estuda pela manhã. Inclusive, outra coisa gratificante foi que seu pai - o pastor Assis - disse que o menino está mais disposto a estudar e melhorou muito o comportamento dele em casa. E que continue assim...
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O menino estava tão empolgado que conseguimos cumprir 60% dos mandados em pouco mais de duas horas. Tomamos o costumeiro sorvete para refrescar e tiramos um tempinho para fazer a foto abaixo.
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Além da felicidade de voltar a ser meu "ajudante", disse que fez muito mais amigos na escola porque ficou "famoso" por aparecer no jornal. Tem uma edição guardada, toda amassada de tanto mostrar para as pessoas. Inclusive estava preocupado porque alguns coleguinhas querem falar comigo para tirar o lugar dele.
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Contou também, que quando chega ao colégio, as crianças falam: "lá vem o famoso!". Tanto é que quando algumas crianças nos viram, vieram correndo querendo que eu tirasse fotos delas também:
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São estes pequenos detalhes que poderão fazer uma grande diferença. E quem sabe nos próximos quatro meses eu não tenha outros "ajudantes", que se empolguem a estudar, que sonhem em ser alguém na vida, independente do preconceito existente por viverem num lugar tão ruim de se viver. Que venham os quatro próximos meses!
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Em tempo: a tarde na casa de repouso ainda não está confirmada e quem escreveu querendo comparecer e participar, fiquem no aguardo que eu informo se realmente será no próximo domingo ou uma outra data.
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Contos em fotos (ou melhor, em placas):
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13/03/2010

Problema de um é problema de todos

Um rato, olhando pelo buraco da parede, vê o fazendeiro e sua esposa abrindo um pacote. Ao descobrir que era uma ratoeira, ficou horrorizado. Correu pelo pátio da fazenda advertindo à todos:
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"- Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira na casa!"
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A galinha disse:
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"- Desculpe-me, Sr. Rato, eu entendo que isso seja um grande problema para o senhor, mas não me prejudica em nada, não me incomoda."
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O rato foi até o porco e disse:
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"- Há uma retoeira na casa!!! Uma ratoeira!!!"
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"- Desculpe-me, Sr. Rato - disse o porco - mas não há nada o que eu possa fazer, a não ser orar. Fique tranquilo que o senhor será lembrado em minhas orações."
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O rato dirigiu-se à vaca e ela lhe disse:
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"- O quê? Uma ratoeira? E e eu estou em perigo? Acho que não!"
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Assim, o rato voltou para sua toca abatido para encarar a ratoeira. Naquela mesma noite, ouviu-se um barulho da ratoeira pegando sua vítima. A mulher do fazendeiro correu para ver o que havia na ratoeira.
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No escuro, ela não viu que a vítima da ratoeira era uma cobra venenosa. E a cobra picou a mulher.
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O fazendeiro levou rapidamente sua mulher ao hospital, que voltou com muita febre. Para alimentar alguém com febre, nada melhor do que uma canja. O fazendeiro matou a galinha e fez a canja.
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Como a doença da mulher continuava, os familiares e amigos vieram visitá-la. Para alimentá-los, o fazendeiro matou o porco.
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A mulher não resistiu e acabou morrendo.
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Muitas pessoas vieram para o funeral. E o fazendeiro sacrificou a vaca para alimentar todo aquele povo.
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Moral da História
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"Na próxima vez que você ouvir dizer que alguém está diante de um problema e acreditar que o problema não lhe diz respeito, lembre-se que quando há uma ratoeira na casa, toda fazenda corre risco. O problema de um é problema de todos."
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Voltei de férias e assumi - por substituição - outra região além da que compreende a que está a comunidade de Frei Damião e verifiquei que não é somente lá que há problemas, principalmente de condições de moradia.
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Como o rato na história acima, as pessoas "alertam" para os problemas da cidade e achei muito interessante duas situações com relação ao asfalto ou calçamento de vias de acesso.
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Pode-se perceber que utilizam a frase "Bela por natureza" que, por sua vez, é o slogan da cidade que são encontrados em portais de acesso à cidade, carros dos taxistas e até em latas de lixo em postes na praça central.
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A primeira fica na localidade de Furadinho, na entrada da Praia de Fora, no sentido norte-sul, depois do Posto de Pedágio, à esquerda. Moradores insatisfeitos (e com razão) por conta do descaso da não pavimentação de ruas naquela localidade.
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"Bela por natureza e com ruas com buraco"
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(clique na imagem para aumentar)

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A segunda manifestação encontrada, fica numa das vias que vai do Loteamento Pagani II para o bairro São Sebastião. Conversando com moradores, trata-se de uma encosta que, quando chove, alaga a rua, onde se transforma numa verdadeira piscina.

Há duas placas, uma sobre a outra. A debaixo foi colocada primeiro, com os dizeres: "Piscina Bela por Natureza". Pelo visto, depois que a "piscina" secou, entende-se que a placa de cima foi colocada depois, conforme se vê:

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A situação mais inusitada aconteceu nessa semana onde fui procurar uma pessoa - destinatária de um mandado - porém, não pude ir de carro por uma boa parte da rua por conta da péssima condição de locomoção que existe. Trata-se da rua Manuel Rosa Freitas, no bairro Caminho Novo.

Infelizmente não achei quem eu procurava, mas pude conversar por alguns instantes com os moradores que estavam chateados, indignados e desacreditados que tal situação pudesse mudar, por conta de tantas promessas que já se foram.

Ouvi um relato triste de uma senhora que, por questões de privacidade, não citarei seu nome. Mas ela levou um tombo num dos milhares de buracos que há na rua e tem um problema feio no joelho. Inclusive, relatou que os caminhões de entrega - supermercados, por exemplo - ou não entregam a mercadoria ou viram na estrada. Das duas opções, a primeira sempre prevalece.

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Mas, o mais inusitado está por vir. Acredite: os moradores da tal rua pagam no carnê no IPTU uma "taxa de conservação de vias".

(clique na imagem)

Não sei se esta taxa todas as residências da cidade pagam, mas independente disso, naquela rua em questão, se a senhora que me atendeu e me mostrou o boleto paga R$ 21,85 e na rua há aproximadamente vinte casas, daria para ser feito algo.. Convenhamos, existe algo de errado, não?

Quero deixar bem claro que sou apartidário, não conheço funcionários de Prefeitura, Câmara de Vereadores, seja de qual cargo for, mesmo porque moro e voto em outra cidade, mas como o rato da história acima, problema de um é problema de outros, ou seja, este problema que é dos moradores, também é problema meu, que dificulta o desempenho do meu trabalho, do motorista da loja de móveis, do carteiro, do entregador de pizza, do agente de saúde e por aí vai...

09/03/2010

Você já mudou o mundo hoje?

A reportagem que saiu na edição do último final de semana - dia 06 e 07 de março, no Jornal Hora de Santa Catarina rendeu bons frutos.

Antes de tudo, gostaria de agradecer à todos amigos-leitores que sempre me incentivaram no meu trabalho e dizer que os méritos da matéria foram de todos nós.

Recebi inúmeros e-mails parabenizando pelo meu trabalho "anônimo" e o que fiquei mais feliz, foi servir de exemplo para outras pessoas que, por comodismo ou falta de incentivo, resolveram ajudar alguém, não necessariamente com relação aos casos comentados aqui, mas em suas vidas pessoais. Este - em minha opinião - é o melhor fruto colhido dessa reportagem.


(clique nas imagens)


Agradecimentos especiais à reporter Sâmia Frantz e sua equipe, ao Edmar (claro!), ao Sr. Fábio Ramos Bittencourtt - vice-presidente da ACOJ - Associação Catarinense dos Oficiais de Justiça que me escreveu gentilmente e divulgou a notícia para todos os Oficiais de Justiça do nosso estado vinculados à associação; à todos os Oficiais de Justiça que me escreveram e aos servidores do Poder Judiciário, em especial, meu novo amigo José Tiago M. de Albuquerque (foto abaixo) que trabalha no TJ e que por conta das orientações na reportagem do jornal, também criou seu blog: http://www.tiagomengo.blogspot.com onde, gentilmente publicou sobre o meu trabalho.

Como ambos estão em férias (eu retorno amanhã!), eu o convidei oara visitar o Sr. João, conhecido na publicação de 30/11/2009 como JF que reside na casa de repouso São Sebastião, no bairro Sul do Rio em Santo Amaro da Imperatriz/SC.

Chegamos lá, o Sr. João, abatido e mais fraco do que antes de eu viajar, tentou se comunicar pela escrita como costuma fazer e se distraiu um pouco, principalmente com as brincadeiras que fizemos com os outros idosos que lá estavam.

Tem uma senhora chamada Filomena, que também é da casa de repouso que o trata muito bem, inclusive ele só se alimenta se ela der a comida pra ele. Eu, sempre que vou lá, brinco que eu sou o filho mais novo dela, ele é o filho do meio e o Sr. Celso (um senhor de cadeira de rodas) é o mais velho. Fizemos a maior bagunça com isso... e ela fica toda risonha...

Meu amigo Tiago conheceu a Sra. Bernadete, proprietária da casa, que explicou o funcionamento, mostrou o caminho das flores, que ela mesma fez, com vários tipos de árvores, pomar, horta, onde os idosos vão caminhar para não ficarem ociosos demais.



Como minha região atual fica do outro lado da cidade, fica um pouco complicado de eu visitar meu "velho" amigo João. Então, como a maioria dos idosos gosta de jogar dominó e outros de música, combinamos um dia para fazermos isso com um grande "cafezada" para o pessoal de lá e para quem for. Falta confirmar com a Sra. Bernadete, mas em princípio será no dia 21 de março, num domingo.

Quem quiser ser voluntário e participar do dia na Casa de Repouso para tocar violão, jogar dominó (quem tiver, leva), levar bolo, pães, sucos, ou algo que achar relevante, pode me enviar um e-mail (marcusdelorenzi@gmail.com) para que eu me organize e possamos fazer o dia deles bem diferente e alto astral. Ah, e mais: nenhum tem diabetes! Já descobri.

E que venha o primeiro dia de trabalho amanhã!

05/03/2010

Uma tarde diferente

Retornei de viagem na semana passada e fui convidado por um jornal da Grande Florianópolis para uma reportagem com o objetivo de mostrar a necessidade das pessoas juntamente com o meu trabalho na comunidade Frei Damião.
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Fui com a repórter, a fotógrafa do jornal e meu amigo Marcos - que me ajudou a relacionar as crianças que receberiam os materiais escolares.
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Fomos em algumas casas onde entregamos os materiais escolares antes das minhas férias, na casa de pessoas onde fiz excelentes amizades, conheceram o pastor Assis e seu filho Edmar - o Ed - que ficou muito contente com nossa visita, achando que "já retornaríamos ao trabalho" naquele dia, mais do que empolgado.
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A situação, obviamente, continua a mesma principalmente com o calor infernal que faz e os constantes temporais que alagam tudo em todo lugar.
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Na ocasião, uma senhora que ganhou materiais escolares para os netos, perguntou se não havia condições de conseguir para sua vizinha, que possui seis filhos, sendo que quatro estudam: um menino e três meninas.
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Como prometemos, cumprimos. Hoje voltamos lá e entregamos os kit's de materiais escolares para a família. Apesar de eu sempre estar com minha máquina, não fiz fotos das crianças mais velhas que receberam, sentem-se constrangidas, talvez por se sentirem discriminadas por morarem num lugar tão ruim.
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Porém, as crianças menores - que ainda não estão na escola - fizeram a festa conosco e com a máquina fotográfica.

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Situações como estas - tão comuns para a maioria das pessoas - fizeram uma tarde diferente para estas crianças tão necessitadas onde qualquer agrado ou atenção é de grande valor.



Volto ao trabalho no dia 10 de março inclusive sendo o último mês que fico na região do Frei Damião e bairros vizinhos.

Apesar de ainda não saber qual será meu novo lugar de atuação nos próximos quatro meses - de abril a julho - não deixarei de retornar à comunidade que me recebeu muito bem, que principalmente fez com que eu - e muitos leitores e amigos - vissem o mundo de uma maneira mais solidária, valorizando o que temos e que geralmente não damos o devido valor.