28/04/2010

O mestre e o escorpião

Um mestre do Oriente viu quando um escorpião estava se afogando e decidiu tirá-lo da água, mas quando o fez, o escorpião o picou.
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Pela reação de dor, o mestre soltou e o animal caiu novamente na água e estava se afogando mais uma vez. O mestre tentou tirá-lo e mais uma vez foi picado.
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Alguém que estava observando se aproximou do mestre e lhe disse:
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"Desculpe-me, mas você é teimoso! Não entende que todas as vezes que tentar tirá-lo da água ele irá picá-lo?"
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O mestre respondeu:
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"A natureza do escorpião é picar, e isto não vai mudar a minha que é ajudar."
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Então, com a ajuda de uma folha, o mestre tirou o escorpião da água e salvou sua vida.
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Não mude sua natureza se alguém te faz algum mal, apenas tome precauções. Alguns perseguem a felicidade, outros criam. Preocupe-se mais com sua consciência do que com sua reputação, porque sua consciência é o que você é e sua reputação é o que os outros pensam de você. Aliás, o que os outros pensam, não é problema nosso. É problema deles.
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Isso é uma forma de reflexão à alguns que, indiretamente "criticaram" por eu estar trabalhando numa comunidade tão pobre da cidade; por estar fazendo um "trabalho de formiguinha que parece não ter fim, nem solução; por "perder meu tempo" e onde "nada vai mudar por lá".
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Sinceramente, conforme o texto acima, a consciência prevalece e desejo que assim seja sempre. Tempo nunca é perdido por lá, mesmo porque a cada minuto aprendo muito, e certamente lições que durarão a vida inteira.
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A questão é que algumas coisas são insignificantes e sem valor para quem critica e, para mais da maioria dos que lá vivem, vale mais do que um tesouro. E sinto, percebo e vejo - com certeza - que o "trabalho de formiguinha" ajudado por muitos, mudou, está mudando e mudará a vida de muitas pessoas ou até, quem sabe, de muitas famílias.
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Realmente muita coisa não mudou por lá. Hoje, depois da incessante chuva, o lixo prevalece, os animais em busca de comida, crianças ociosas e famílias tristes, arrumando do pouco que sobrou...
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Apesar de todas as dificuldades, ainda existe força de continuar - mesmo que seja do zero - e a esperança que será apenas uma batalha vencida e não a guerra.
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Por fim, outra coisa que não mudou por lá e espero que jamais mude, é a alegria das crianças quando eu chego, as risadas, as bagunças, onde vejo a necessidade de apenas um pouco de atenção, uma simples conversa, um elogio.
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É por essas e outras que eu me orgulho muito em trabalhar na "região pobre da cidade", de poder ser útil para alguém nem que seja apenas no momento de desejar um "bom dia", dar um sorriso mesmo que eu esteja cansado ou preocupado e, principalmente ouvir, mesmo que o problema não seja comigo. Serei "teimoso" como o mestre do Oriente.

25/04/2010

Um novo recomeço

Desde sexta-feira choveu sem parar região da Grande Florianópolis, tanto é que eu não consegui trabalhar na região da comunidade Frei Damião, não só pela chuva intensa, mas pelas condições que ficaram o local - se já era ruim, depois da chuva, sem maiore comentários. Pior que um dia de chuva, são - no mínimo - dois dias de atraso.



Como os próprios moradores já relataram na última enxurrada, quando começa a fechar o tempo - na maioria das residências - somente as crianças dormem à noite, enquanto os adultos ficam de prontidão para verificar se a água sobre para colocar os móveis nas partes mais altas da casa (isso se houver a tal parte alta).
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E quando a enchente aparece, o caos é total. Lixo acumulado mais do que o normal, pedaços de móveis, eletrodomésticos, colchões, roupas, calçados e alimentos misturados com a lama. Uma cena deplorável, porém, não tão triste quanto o olhar dos moradores.
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O que mais me impressiona é que apesar disso tudo, os moradores se unem com o pouco que sobra e tentam, com muito esforço, reconstruir suas vidas.
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Nos estragos da enchente anterior, conheci o Sr. Vicente, que teve sua casa destruída onde sobrou apenas uma parte da casa - onde agora dormem ele, a esposa e seis filhos - junto com alguns móveis doados por outros moradores. Apesar de toda essa situação difícil, me disse com muito entusiasmo:
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"Agora não importa o que a chuva tirou da gente, o que importa é o que a gente vai fazer com o que sobrou. Mais uma vez, um novo recomeço."

22/04/2010

Casas e acasos

Nas idas e vindas do trabalho, flagrei algumas casas onde a criatividade impera. Aliás, em algumas, criatividade demais.
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Numa delas, tem tantos enfeites no jardim, que misturou história de contos de fadas, personagens de desenhos em quadrinhos com o Papai Noel metido no meio daquele povo todo. E o mais interessante que descobri que naquela casa não tem criança...
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E cá entre nós... a Branca de Neve não tem o que fazer, ela está em todas! Em outras duas casas que passei, em ruas e bairros diferentes, lá estava ela.
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E também há casas em que a decoração é mais séria. O muro de uma delas ganha dos altares de muitas igrejas por aí...
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Tem uma que eu não entendi: uma casa dentro de uma casa. A vida tem dessas coisas, uns possuem demais, outros, de menos.
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Agora, para fechar com chave de ouro, uma casa onde o proprietário jamais sentirá falta da Ponte Hercílio Luz, cartão-postal de Floripa. Convenhamos, o proprietário tem mais vantagem do que o restante da população, pois tem um ponte só pra ele, passa quando quer, enquanto que a original está em obras há anos sem previsão de abertura.

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"Criatividade é inventar, experimentar, crescer, correr riscos, quebrar regras, cometer erros e se divertir..."

16/04/2010

De tudo um pouco

A semana, apesar de corrida, foi bem produtiva. Fiz duas regiões diferentes e consegui cumprir um número considerado de mandados, o que me deixou mais tranquilo e atento aos "detalhes" que encontro durante o trabalho.
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Na segunda-feira tive a felicidade de levar meu tio e padrinho, José Zomer, pela segunda vez na comunidade Frei Damião. Na primeira oportunidade ele viu a situação precária de muita gente, sempre me apoiando com minha tia e madrinha Iracema nas campanhas que fiz, desde o Natal até na Páscoa.


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Mas desta vez, ele tomou iniciativa de comprar cestas básicas para ajudar alguém. Eu, como conheço um pouco da região e quem realmente precisa - e vai usar, principalmente - o levei para conhecer a família da Dona Vera, uma senhora que divide o terreno com sete filhos sendo que cada um deles possuem seus filhos e por aí vai... foi muito bom, pois não esperavam pois, desde chuva da semana passada estavam perdidos sem saber o que fazer, o que pensar e como agir com a perda de tudo (o pouco) que tinham em casa. Sem palavras para agradecer!
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Depois, no decorrer da semana, fui trabalhar na região mais civilizada do zoneamento onde está também a comunidade de Frei Damião.
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Uma das maiores dificuldades no trabalho de um Oficial de Justiça é localizar as casas. Na região denominada Jardim Aquarius, as ruas - em sua maioria - são calçadas ou asfaltadas, mas está bem enganado quem acha que é mais fácil e simples do que Frei Damião que é uma área invadida, sem um planejamento certo de ruas e números de residências.
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Enquanto uma região tem números de menos, outras possuem demais:






E como no título do blog, "de tudo um pouco" eu vi e encontrei nesta semana. Um morador indignado numa rua do Jardim Aquárius deixou um aviso mais do que claro para que não jogassem lixo na esquina da casa dele. Penso que funcionou, porque não vi lixo na sua esquina. Acho que vou usar de modelo em algumas ruas do Frei Damião...

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Ainda, encontrei gente querendo gente para trabalhar. Aliás, se alguém quiser se candidatar na vaga abaixo - tem que ser bom! - me avisa porque sei onde é o lugar. E estou falando sério, afinal, nada é por acaso.
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E, por fim, tem gente que faz de tudo para ganhar a vida, o que eu acho mais do que certo. Mente vazia, oficina do capeta.
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Mas, se tem alguém que faz de tudo, que se vira sempre, sempre e sempre, mas está cansado de se virar, tem ainda uma solução:.


Bom final de semana à todos!

12/04/2010

O poder do entusiasmo

"Entusiasmo é acreditar na nossa capacidade de fazer as coisas acontecerem, de darem certo, de transformar a natureza e as pessoas. Não espere ter as condições ideais para se entusiasmar. Não é a realidade da vida que tem que nos entusiasmar, nós é que temos que entusiasmar a realidade da nossa vida."
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Por falar em "transformar" e "entusiasmo", na sexta-feira quando fui entregar o restante dos chocolates, vi situações que transformaram a vida de muita gente, que por sua vez, perderam o entusiasmo para tudo...
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Como alguns sabem, a chuva castigou a região da Grande Florianópolis, deixando várias comunidades em estado de calamidade. Uma das regiões foi a comunidade de Frei Damião. Sinceramente, não sei se a pior parte é chuva ou o depois da chuva.
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Ouvi relatos tristes e comoventes sobre a chuva, os móveis sendo coberto pelas águas, gritaria de crianças, ratos e cobras misturado com a lama e partes dos móveis e roupas da população.
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No meio do caos, conversei com um morador que já é conhecido meu, porque sempre vou na sua rua, seu filho recebeu material escolar e chocolate na Páscoa, mas por questão de privacidade, não falarei seu nome.

Contou que sua carteira de trabalho foi "levada pela enchente" mas que não faria uma segunda via porque não poderia conseguir um trabalho. Ele sempre dizia que tinha algo pra me contar, mas sempre mudava de assunto. Creio que com minhas idas contínuas à comunidade, foi me conhecendo e ganhou confiança.

Começou contando que veio do Paraná há cinco anos e que em sua cidade teve um "problema na justiça". O ocorrido não vem ao caso, mas ocorre que então conheceu sua atual esposa, vieram pra cá e não soube como terminou sua situação com relação ao processo de lá.

Desde que veio para Santa Catarina nunca procurou emprego fixo por ter medo, pois ficou sabendo por amigos que as empresas pedem certidão de antecedentes criminais, também porque tinha medo e vergonha de contar sobre a existência do tal problema que teve na justiça naquele estado e por morar na comunidade Frei Damião. Daí, segundo ele, a desnecessidade de fazer uma nova carteira de trabalho.

Com isso, peguei seus dados de identificação e tirei junto à Justiça Estadual e Federal tais certidões, todas sem alguma restrição. Quando expliquei que ele poderia - tranquilo e sem medo - fazer seus novos documentos e poderia procurar seu tão sonhado emprego "com carteira assinada", ficou radiante.

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Eis o poder do entusiasmo...

Com uma simples ação mudou-se o rumo de um família, pois ele começando a trabalhar, terá tudo para fornecer uma vida mais digna à sua esposa e seu filho. Estava tão entusiasmado que queria demais me agradecer e então disse que "se tivesse um outro filho, colocaria o nome de Marcus".

Certamente seria uma bela homenagem, mas sugeri que com o seu primeiro pagamento, comprasse um bolo. Mesmo porque, hoje em dia, mais vale uma boca para comer um bolo num dia a ter que alimentar outra boca pela vida inteira, isso sim!

BOA SEMANA À TODOS!

06/04/2010

Mais sessenta e um sorrisos

Mesmo com a passagem da Páscoa, felizmente continuo recebendo doações de amigos-leitores com o intuito de fazer a alegria da criançada da comunidade Frei Damião.
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Hoje tive o prazer de conhecer pessoalmente uma das leitoras deste nosso blog - Edite - que fez doação de doces, além de fazer parte em outros trabalhos comunitários.
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Agradecimento também ao meu amigo David Fagundes, que fez sua doação em espécie que também contribuiu muito para a confecção dos pacotinhos de doce, e com essas doações consegui montar 45 unidades.
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Mas a continuação da Páscoa não pára por aqui... agradecimentos especiais ao Grupo Bíblico em Família da Praia do Meio de Coqueiros, da cidade de Florianópolis, que fez a doação de 16 kit's de doces.
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Assim - juntos e em tão pouco tempo - conseguiremos fazer um dia mais feliz tão simples para alguns e para outros, tão marcante e importante.
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Aliás, marcante mesmo será ver o sorriso tímido de gratidão de 61 crianças. Sorriso este que não é comum ver na necessitada e esquecida comunidade.
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Quem quiser me acompanhar na entrega, será na sexta-feira dia 10/04, no período da manhã. É só me mandar um e-mail até na quinta-feira que combinaremos local e horário.
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Grande abraço e até lá!

02/04/2010

Uma doce Páscoa

Mais uma vez, por esta "ferramenta" simples, conseguimos fazer a alegria de muitos com tão pouco. Foi um trabalho rápido em meio à correria do dia-a-dia, mas que deu resultados bem positivos.
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Antes de tudo, agradecimentos especiais à todos que ajudaram a fazer uma Páscoa mais feliz, de mais de cem crianças da comunidade Frei Damião em especial ao Sr. Geraldo e Adria, Alexandre Grandi - que é Oficial de Justiça em São José/SC - e seus amigos; Roberto e Faustina Steffani - proprietários da empresa Re9; Sra. Dalva Búrigo; Camila Ramos e por fim, Marcos Weingartner e Ana Cristina de Medeiros que me ajudaram a distribuir os doces pela comunidade, uma vez que foram professores naquela região, sabendo das necessidades daquele povo.
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Conseguimos montar 160 pacotes de doces, todos com o mesmo conteúdo que foram distribuídos em várias ruas da comunidade.
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A alegria das crianças em serem lembradas demonstrada pelo sorriso de cada uma, não tem preço. Como sempre, atitudes tão pequenas para muitos, que valem demais para outros.
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Percebi que as crianças, em sua maioria, são extremamente educadas, agradecendo o doce recebido mesmo que muitas demonstrando num tímido sorriso de gratidão. É a prova de que a condição social não tem muito a ver com a educação e caráter de alguém.
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Páscoa é ajudar mais gente a ser gente, é viver em constante libertação. É renascimento, é recomeço; é uma nova chance para melhorarmos as coisas que não gostamos em nosso redor, ajudando o próximo.

Feliz Páscoa à todos!