28/05/2010

Primeiro carreteiro oficial

Daqui há exatamente um mês, 28 de junho, completo 31 anos de idade e juntando o útil ao agradável, tive a idéia de comemorar meu dia e ao mesmo tempo ajudar a comunidade que foi muito prejudicada com as chuvas dos últimos dias.
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Comentei com muitas pessoas sobre essa minha intenção no intuito de obter ajuda e felizmente consegui.
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Por outro lado, recebi várias críticas - nada construtivas - onde sugeriram que eu não "deveria perder meu tempo" em fazer algo sendo que naquela comunidade "nunca mudará nada" e assim sendo, as pessoas sempre esperarão por alguma ajuda. Sinceramente, isso não me interessa. O que me interessa é que eu - sempre com a ajuda de muitos - consigo mudar algo na vida de alguém (para melhor) por mínimo que seja.
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Como também já insinuaram, não é questão de "querer me promover", mas sim, de mostrar às pessoas que podemos ajudar sim e, principalmente, fazer com que mais pessoas me acompanhem nessas "campanhas". Inclusive, tive em várias oportunidades, a felicidade de saber que muitas pessoas se achavam acomodadas e não tinham iniciativa em ajudar outras pessoas - não sabendo como fazer ou não tenho idéias.
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O "trabalho de formiguinha" pode não parecer, mas vale muito e eu tenho a prova disso em todas as vezes que conseguimos fazer algo por alguém ou por alguma família que vive por lá e, tenham a certeza, sempre que eu puder, ajudarei ou tomarei a iniciativa; mesmo porque sempre existirão aqueles que estarão junto, apoiando e fazendo a diferença. O vídeo abaixo é um maravilhoso exemplo disso.
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Voltando ao assunto do meu aniversário - com a ajuda de muitas pessoas - está confirmado um almoço beneficente no dia 27 de junho, ao meio-dia, com o intuito de arrecadar fundos para comprar roupas e cobertores para algumas famílias que perderam (quase) tudo na região do Frei Damião.

Será na cidade de São José/SC, cidade vizinha de Palhoça, no restaurante de uma grande amiga com capacidade para 80 pessoas. Como será meu aniversário, a sugestão de presente - que não é obrigatório - será um agasalho ou cobertor em bom estado. Não precisa ser novo, mas que dê para usar.

Além disso, com o dinheiro arrecadado, será comprado algo que supra as necessidades de algumas famílias, como calçados, cobertores, roupas ou até mesmo cestas básicas. Inclusive, as pessoas que quiserem me ajudar a comprar, visitar as famílias e inclusive entregar o que for arrecadado, está mais do que convidado!

Abaixo, o modelo do convite/ingresso e quem tiver interesse, entrar em contato via e-mail ou comentário no blog para comprá-lo comigo. No verso do convite terá o mapa e telefone do restaurante onde será o almoço.

Por fim, gostaria de agradecer à todos que colaboraram, direta ou indiretamente, para que este pequeno evento pudesse sair de uma simples idéia e se concretizar. Agradecimentos também àqueles que, mesmo à distância e que não poderão comparecer, compraram o convite/ingresso com a intenção de ajudar nessa nova campanha.

Quem sabe não esteja nascendo um evento anual, com patrocinadores, espaço maior, mais mobilização e, por consequência, ajudando muito mais pessoas? Mesmo porque, sonhar não custa nada e também porque a iniciativa já foi tomada...

25/05/2010

Atuando no trabalho

Em outras ocasiões eu já disse que um Oficial de Justiça também deve ser psicólogo para saber, principalmente, ouvir e orientar. Deve ser professor para explicar e indicar saídas e maneiras de resolver a situação da pessoa e, descobri, ultimamente, que temos um pouco de ator...
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Fui cumprir um mandado de busca e apreensão de uma moto. Caso simples: uma amiga (autora) emprestou a moto para outra amiga (ré). Esta sumiu com a moto, mudando de endereço, telefone e de trabalho - que amiga, não? - mas a proprietária localizou a moto e me ligou.
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Chegando no local, era um edifício residencial novo, com quatro andares, portão eletrônico e somente um apartamento com morador que - por azar - não estava no momento. Segundo ela, "achava" que a moto estava lá. Mas neste caso, só podemos fazer a busca se realmente o bem está no local informado, assim evita arrombar porta ou chamar chaveiro, essas coisas.
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Ocorre que, como o prédio é novo, haviam vários apartamentos desocupados com placas para locação. Liguei para a imobiliária e informei que gostaria de ver os apartamentos porque estava interessado em alugar um naquela região (mentira! Que pecado!). Na verdade só queria dar um jeito de entrar e confirmar se a moto realmente estava ali.
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Quinze minutos depois chega a representante da imobiliária. Perguntou se eu tinha interesse em algum andar e eu disse que não, somente que tivesse garagem (pois era lá que a moto estava!). Mostrou três: um quarto, dois quartos e três quartos quando, finalmente, fomos na garagem e lá estava a moto da moça, que por sua vez, estava apavorada do lado de fora aguardando ansiosa.
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Aí eu - com a maior cara de desentendido - disse: "Que coincidência! Estou procurando esta moto porque existe um mandado de busca e apreensão. Um minutinho que eu preciso ligar para a legítima proprietária...".
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Liguei e expliquei que estava dentro do prédio, confirmei que a moto era aquela e que estava tudo bem. A moça da imobiliária não entendeu nada, abriu o portão, a moto foi levada pela proprietária e eu ganhei o cartão da imobiliária no caso de eu decidir alugar algum dos apartamentos.
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Assim, se caso alguém tiver interesse, recomendo um dos três apartamentos, são amplos, arejados e novos. Missão cumprida!
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A outra foi com uma oficina que arruma geladeiras. O proprietário estava se omitindo e mentia que não era ele quando outro Oficial de Justiça fazia aquela a região.
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Cheguei depois do almoço e a oficina fechada. Parei o carro do outro lado da rua onde tinha um bar. Pedi um refrigerante e fiquei esperando alguém chegar para abrir a oficina. Perto das 13h chega um casal e abre o estabelecimento, esperei uns cinco minutos e liguei para o telefone que estava na fachada do imóvel.
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A moça atendeu e eu disse: "Eu tenho três geladeiras usadas e gostaria de saber se arrumam porque eu pretendo colocar na minha pousada" (um dia quero ter uma pousada). E ela, mais do que rapidamente disse: "Um minuto que vou chamar o "fulano de tal". Bingo! Era o moço que eu procurava. Enquanto ela foi chamá-lo, "sem querer" a ligação caiu. Esperei mais uns dez minutos no bar do outro lado da rua, pedi uma água mineral e depois, fui na oficina.
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Chegando lá, fui direto no moço que, obviamente, disse que não era ele e que, quem eu procurava era "seu cunhado", mesma desculpa usada com o outro Oficial de Justiça. Pedi seu documento de identificação e disse que não tinha. Então respondi que, infelizmente, eu teria que chamar a força pública (polícia) porque eu tinha informações de que ele é realmente a pessoa que eu estava procurando. E assim, ele recebeu o mandado. Novamente, missão cumprida!



Uma coisa é certa: o Oficial de Justiça é, sobretudo, um ator.
A única diferença que seu palco é o cotidiano.

20/05/2010

A menina que não acreditava em Deus

Depois de quase uma semana sem conseguir atuar na comunidade de Frei Damião, hoja consegui chegar em pelo menos, numa parte dele. Nem preciso dizer muito sobre a catástrofe que a chuva causou, mesmo porque os jornais e notíciários informam a todo instante, frisando que a região mais afetada foi esta.

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Lixo e entulho. É só o que se vê por lá. Móveis estragados, roupas de cama sujas e rasgadas, eletrodomésticos quebrados e espalhados por todo canto. Se a maioria das pessoas que lá residem, já possuem um semblante de desânimo por morar num lugar tão ruim, imaginem agora, depois dessa tragédia da natureza.
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Numa das ruas, denominada Afonso Pena, que também é conhecida como Rua das Palmeiras, conheci a Sra. Ângela e suas filhas, Laura (uns 12 anos) e Luana (aproximadamente 06 anos). Eu estava conversando com a família da Dona Vera - aquela onde meu tio e eu entregamos cestas básicas na outra enchente.
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Conversando com as três, fiquei sabendo que a Sra. Ângela estava indo embora da cidade e retornaria para casa de sua mãe - avó das meninas - em Xanxerê, porque perdeu sua casa e todo o pouco que possuía. Rosto triste, pálido e cansado.
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Luana, a mais nova, disse: - "Vamos morar com minha avó! A chuva levou nossa casa."
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- "Isso é de menos, né? Pelo menos Deus salvou nossas vidas." - falou Laura, a mais velha, tentando amenizar a triste situação.
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Luana, indignada gritou:
- "Deus não existe, sua idiota! Foi São Pedro que mandou a chuva..."
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Ao mesmo tempo que o jeito dela fez com que todos achassem graça, sua mãe disse:
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"Lu, Deus existe sim. Talvez se São Pedro não mandasse a chuva, a gente não perderia a casa e não iríamos morar com tua avó...".
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O semblante de Luana automaticamente mudou pra melhor. Graças à São Pedro!
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Essa frase da mãe dela me fez lembrar da velha frase de que "nada é por acaso" e que para tudo em nossas vidas - mesmo sendo em situações ruins - sempre podemos tirar um ponto positivo, um lado bom. Que Deus abençoe essa família nessa nova etapa de suas vidas.
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Amanhã, se der sol, provavelmente passarei o dia na comunidade, tentando colocar em dia tudo o que está acumulado e certamente, mais um dia que será um grande aprendizado com situações que parecem tão simples.

18/05/2010

Pérolas do cotidiano

Comecei a semana de plantão à tarde no Fórum e apesar do pouco tempo pela manhã - por conta do movimento e do mau tempo - fiz alguns flagras "diferentes".
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Vale ressaltar que não foi na comunidade Frei Damião.
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Aliás, espero que pare de chover para que eu possa cumprir a grande quantidade de mandados que acumularam por conta da falta de acesso devido às chuvas das últimas semanas.
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Assim, nas idas e vindas, quem quiser, fazer emcomendas, à vontade!
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Encontrei também uma casa bem diferente e interessante, cheia de cores e estilos. Quanta informação! Mas - cá entre nós - se a Casa Cor descobre...

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E por falar em casas... encontrei outras numerações duplas! E agora? Qual é a válida?
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E quando a prefeitura não nomeia as ruas, o povo mesmo se encarrega disso, mesmo que a escrita não esteja totalmente correta. O importante é que ninguém se perde e nos ajudam. Melhor do que nada!
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E a mais interessante descoberta de todas é um campinho de futebol no terreno do cemitério. Lugar interessante.
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Primeiro porque a torcida estará sempre quietinha, só observando, sem jogar objetos no campo, sem xingar jogador, a mãe do juiz ou o bandeirinha.
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(clique nas imagens para ampliá-las)
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O mais importante é que serve de exemplo para todas as torcidas do mundo pois, existe torcida mais organizada do que esta?

12/05/2010

Criatividade nas dificuldades

É bem provável que não é somente na região onde eu trabalho que existe dificuldade mas é lá que vejo o quanto a população "se vira" para conseguir sobreviver melhor, principalmente quando se vive em péssimas condições, pioradas com a falta de emprego, enchentes e discriminação por morar numa favela.
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Cada vez que vejo uma situação desta, lembro da "parábola da vaca" que assim diz:
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"Era uma vez, um sábio chinês e seu discípulo. Em suas andanças, avistaram um casebre de extrema pobreza onde vivia um homem, uma mulher, 3 filhos pequenos e uma vaquinha magra e cansada. Com fome e sede o sábio e o discípulo pediram abrigo e foram recebidos. O sábio perguntou como conseguiam sobreviver na pobreza e longe de tudo.
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- O senhor vê aquela vaca? - disse o homem - "Dela tiramos todo o sustento. Ela nos dá leite que bebemos e transformamos em queijo e coalhada. Quando sobra, vamos à cidade e trocamos por outros alimentos. É assim que vivemos".
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O sábio agradeceu e partiu com o discípulo. Nem bem fizeram a primeira curva, disse ao discípulo: "Volte lá, pegue a vaquinha, leve-a ao precipício ali em frente e atire-a lá em baixo".
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- "Não posso fazer isso, mestre! Como pode ser tão ingrato? A vaquinha é tudo o que eles têm. Se a vaca morrer, eles morrem!
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O sábio, como convém aos sábios chineses, apenas respirou fundo e repetiu a ordem:
- Vá lá e empurre a vaquinha.
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Indignado porém resignado, o discípulo assim fez. A vaca, previsivelmente, estatelou-se lá embaixo. Alguns anos se passaram e o discípulo sempre com remorso. Num certo dia, moído pela culpa, abandonou o sábio e decidiu voltar àquele lugar. Queria ajudar a família, pedir desculpas.
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Ao fazer a curva da estrada, não acreditou no que seus olhos viram. No lugar do casebre desmazelado havia um sítio maravilhoso, com árvores, piscina, carro importando, antena parabólica. Perto da churrasqueira, adolescentes, lindos, robustos comemorando com os pais a conquista do primeiro milhão. O coração do discípulo gelou. Decerto, vencidos pela fome, foram obrigados a vender o terreno e ir embora. Devem estar mendigando na rua, pensou o discípulo.
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Aproximou-se do caseiro e perguntou se ele sabia o paradeiro da família que havia morado lá.
- "Claro que sei. Você está olhando para ela."
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Incrédulo, o discípulo afastou o portão, deu alguns passos e reconheceu o mesmo homem de antes, só que mais forte, altivo, a mulher mais feliz e as crianças, jovens saudáveis. Espantado, dirigiu-se ao homem e disse:
- "Mas o que aconteceu? Estive aqui com meu mestre alguns anos atrás e era um lugar miserável, não havia nada. O que o senhor fez para melhorar de vida em tão pouco tempo?"
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O homem olhou para o discípulo, sorriu e respondeu:
- "Nós tínhamos uma vaquinha, de onde tirávamos o nosso sustento. Era tudo o que possuíamos, mas um dia ela caiu no precipício e morreu. Para sobreviver, tivemos que fazer outras coisas, desenvolver habilidades que nem sabíamos que tínhamos. E foi assim, buscando novas soluções, que hoje estamos muito melhor que antes..."
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E é assim que vive a maioria da população: buscando alternativas para sobreviver, onde "se faz de tudo e em qualquer lugar":
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Aliás, o que não falta é criatividade, mesmo que para uns não tenha valor, para outros, vale muito (ou tudo):
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É com a adversidade que exercitamos nossa criatividade e criamos soluções para os problemas da vida e muitas vezes é preciso sair da acomodação, criar novas idéias e trabalhar com determinação, sempre!

09/05/2010

Um dia das mães especial

Poderia ser um domingo normal, um domingo qualquer. Poderia ser um domingo de dia das mães passado em branco, mas felizmente foi diferente para todos e, principalmente, especial.
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Como combinado, passei pela manhã para buscar Cauã e seus pais para o almoço do dia das mães. Sua mãe contou que - para seu filho - o final de semana custou a passar principalmente porque estava muito preocupado com a chuva de sexta e sábado, achando que hoje a chuva continuaria e eu não conseguiria buscá-los.
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Mas o dia amanheceu lindo, sol, sem vento e o tempo seco. Cheguei com minha mãe e minha tia e lá estava ele, na frente da casa, de prontidão, todo arrumado. Chegamos no restaurante e como esperado por conta do movimento - ficamos na fila de espera. Ficaram todos numa sala sentados, conversando.
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Cauã estava ansioso para entregar o presente que comprou para sua mãe. Aí eu disse: "Cauã, vamos comigo no carro ver se eu fechei direito..." - ele entendeu e fomos.
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Pegamos o presente no porta-malas e voltou às pressas. Passou pela multidão que também esperava pela vez - com o pacote em mãos - todo orgulhoso. Parou em frente sua mãe e disse: "Olha mãe, teu presente. Troquei pelas minhas figurinhas!" - todos ali se emocionaram, principalmente com o abraço demorado que deu em sua mãe.
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Depois chegaram mais pessoas, amigos e parentes - e numa mesa enorme, almoçamos todos juntos.
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Uma cena que me chamou a atenção foi na hora de pegar a sobremesa. Tinham oito tipos diferentes e Cauã pegou um pratinho e colocou um pouco de cada (misturando tudo) e disse: "vou levar pra minha mãe, fazer outra surpresa pra ela".
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Certamente - apesar de ser o dia das mães - todos que participaram do almoço tiveram dois presentes especiais: fazer um domingo diferente de uma família batalhadora e humilde, bem como ver a sensação de satisfação de um menino em fazer sua mãe feliz.
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07/05/2010

Figurinha repetida

O dia das mães está chegando, porém, é uma data que passa despercebida para muita gente, principalmente para a maioria das pessoas e isso foi o que constatei hoje.
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Nos últimos dias estou atarefado com a região da Barra do Aririú, do outro lado da cidade e nem tive tempo de cumprir mandados na região da comunidade Frei Damião.
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Uma nova amiga, leitora do blog - que pediu seu anonimato - me questionou o que eu faria no dia das mães e respondi que levarei minha mãe para almoçar numa churrascaria de Palhoça onde, numa outra ocasião, já fui com ela e gostou muito. Por conta disso, essa "nova amiga" ofereceu um almoço para um casal com um filho do Frei Damião para almoçar no dia das mães nessa churrascaria - casal este que eu poderia escolher por contra própria - já que ela não conhece o local como eu.
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Foi uma escolha fácil, mesmo porque são poucos casais que possuem apenas um filho e hoje, deixei um pouco o trabalho na Barra do Aririú de lado e fui no Frei Damião convidar meus escolhidos. Cauã e seus pais.
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Cauã é o menino que esperou o Papai Noel, que não apareceu porque não conseguiu passar pela vala por conta das chuvas. Seu pai é o moço que há anos não tinha feito sua carteira de trabalho porque teve um "problema" na justiça e tinha medo de ser preso (tudo isso já foi contado em outras publicações).
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Cheguei e só estava Cauã e sua mãe. Conversando sobre a minha ausência por conta do trabalho em outra região e sobre outros assuntos, perguntei o que eles fariam no domingo - dia das mães.
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- "Nada - respondeu a mãe de Cauã - ficaremos em casa. Estou de folga essa semana e vou poder descansar um pouco".
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Prontamente fiz o convite, perguntando se gostariam de almoçar comigo e minha mãe no domingo, já que será dia das mães. Timidamente não negaram, mas queriam esperar o pai de Cauã chegar para ver se ele toparia.
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Enquanto isso, sua mãe foi lavar louça e fiquei conversando com Cauã (o menino da foto acima) que me disse com ar de incerteza:
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"- Eu acho legal ir almoçar, porque nunca fomos em restaurante. Mas eu não tenho presente pra minha mãe, então eu acho que não vai dar..."
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Percebi que ele tinha imaginado que, para almoçar num restaurante no dia das mães ele teria que levar um presente. Expliquei que o almoço seria um presente, assim como seria com minha mãe, como se fosse um momento diferente, para a gente conversar, se divertir.
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De repente ele disse:
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- "Já sei! Tenho um álbum de figurinhas da Copa do Mundo, vejo se tem alguma repetida, vendo e posso comprar um presente pra minha mãe!"
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Começou a me mostrar as figurinhas - tinha umas 15 - e quando chegou ao final, percebeu que não tinha nenhuma repetida. Fez uma cara de desânimo, como quem diz: "não deu, e agora?" Fiquei sem chão.
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Soube por ele que vendem figurinhas do álbum numa padaria perto a R$ 0,20 centavos o pacotinho com três. Aí sugeri: "Vamos fazer assim, eu tenho umas moedas no carro, compramos uns pacotinhos e quem sabe vem alguma repetida." E lá fomos nós comprar as figurinhas, foram vinte pacotinhos, R$ 4,00, 60 figurinhas.
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- "Vieram 16 repetidas"! - gritou ele todo feliz. Para "facilitar" eu disse: "Que legal, eu tenho um amigo (mentira!) que não tem essas daí, então deixa que eu compro e dou pra ele. Eu compro por R$ 0,25 cada uma, pode ser?"
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Ele - na inocência - ainda disse que estava muito caro por uma figurinha, porque um pacote com três vale bem menos. Fiquei até com vergonha mas justifiquei que, "já que meu amigo não tem e quer muito", não teria problema, "ele" ia querer mesmo assim. Troquei as figurinhas repetidas por R$ 4,00.
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Na hora me convidou para irmos numa loja de R$ 1,99 que tem de tudo, inclusive onde comprei os materiais escolares na campanha do começo do ano. Ele, todo faceiro com R$ 4,00 na mão disse para a funcionária da loja que já me conhecia: "quero comprar um presente pra minha mãe. Tenho R$ 4,00!" -pisquei pra ela que entendeu o porquê de estarmos ali.
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Mostrou umas canecas coloridas, colares, objetos de decoração, brincos, canetas e muitas outras opções. Percebi que ele gostou da caneca e de um par de brincos e eu disse: "Cauã... quem sabe um brinco, porque daí seria um presente só pra ela e não pra casa". Com isso, a moça disse que faria os dois pelo preço de R$ 4,00. E assim foi. Fez um pacote lindo, vermelho, cheio de recortes e ele saiu comigo da loja sob o olhar dos funcionários, todo cheio de pose...
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Quando estávamos chegando perto do meu carro, antes da casa dele, me pediu que o pacote ficasse comigo e que eu guardasse no porta-malas dizendo:
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- "A gente faz assim: lá no restaurante quando todo mundo estiver sentado, tu faz de conta que vai no banheiro e eu vou junto, aí pega o presente no carro e eu faço uma surpresa pra minha mãe, pode ser?"
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Óbvio que achei fantástica a idéia e topei na hora. Deixamos o pacote no carro e fomos na casa dele, encontramos seu pai, que aceitou o convite do almoço e eu os pegarei no domingo, às 11h30min para irmos almoçar todos juntos... que venha a surpresa!
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Por fim, quero desejar à todas as mães do mundo (em meu nome e em nome do Cauã) que Deus as abençoe sempre em agradecimento por ter nos colocado no mundo. Ainda, um vídeo que demonstra que podemos fazer tão pouco com uma simples demonstração de carinho.
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BOM FINAL DE SEMANA!

FELIZ DIA DAS MÃES!

04/05/2010

A menina do porta-retrato

Na semana passada, tive a felicidade de conhecer Sabrina, mais uma personagem que marcará presença no meu cotidiano profissional.
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É uma menina linda, aparentando uns quatro, no máximo cinco anos, cabelos loiros, curtos e mal cortados, olhos verdes e sujinha de terra, porém, com um sorriso lindo.
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Eu estava cumprindo um mandado de audiência na rua Treze de Maio, a principal da comunidade Frei Damião e percebi que Sabrina me seguia - um pouco atrás - como se estivesse me acompanhando. Percebi também que ela segurava uma sacola plástica - de mercado - e conversando com ela, me mostrou o que tinha dentro: uma boneca suja, duas canetas velhas e uma fotografia dela um pouco rasgada nas beiradas.
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Notei que - com o entusiasmo que ela me mostrou aqueles objetos - era tudo o que ela tinha e era somente aquele seu divertimento. Na ocasião eu disse: "vamos colocar essa foto num porta-retrato?" Deu um largo sorriso com um ar de confirmação e prometi que na próxima semana levaria o porta-retrato para colocar sua foto.
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Ontem fui cumprir um mandado numa casa que me chocou, tamanha a miséria, pobreza e abandono. Dois cômodos, um deles sem piso, somente no chão de terra, roupas e brinquedos de crianças jogados bem como utensílios de cozinha sujos e amontoados num canto da casa. Sinceramente, pensei que fosse uma casa abandonada.
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Uma mulher veio me atender e informou que sua filha - a destinatária do mandado - não estava, não sabia para onde foi, tampouco quando voltaria. Assim sendo, lendo com mais calma o mandado e seus anexos, verifiquei que trata-se de uma ação onde a mãe perde a guarda dos filhos por ser usuária do crack, bem como pelas más condições de sobrevivência e educação familiar sendo que as crianças foram levadas pelo Conselho Tutelar.
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Durante a leitura - a surpresa - uma das duas filhas envolvidas na questão é Sabrina, a menina do porta-retrato.
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Abaixo, o vídeo da campanha da RBS: "Crack, nem pensar" - que dispensa comentários.